Hoje, os plásticos invadiram a nossa sociedade. Seríamos hipócritas se não admitíssemos a sua utilidade, mas seremos tontos se não conseguirmos ver que, em muitas utilizações, outros materiais podem substituí-los. Da mesma forma, não nos apercebemos de como há matérias-primas que fazem parte das nossas vidas antes dos polímeros e continuarão presentes no futuro, como o barro, por exemplo!
Quase todos nós tivemos, ou temos, vasos de barro no jardim, na janela ou na varanda, com uma planta viçosa ou com uma mortiça que teima em viver, apesar da nossa conduta assassina, que se esquece de a alimentar...
Muitos de nós já comeram um aromático caldo verde, numa tigela de barro, que, além do paladar, evoca memórias de verão, de jantares de família, de férias e de momentos felizes! E muitos se lembram da louça de barro da casa dos avós, dos pratos coloridos que decoravam as paredes, das jarras despretensiosas que deixavam as flores brilharem. Muitos visitaram museus e viram magnificas exposições de cerâmica, testemunho da forma de vida e engenho do passado. E se continuarmos a pensar, veremos que, desde sempre, o barro está presente em muitas formas, e é muito maior que a relevância que lhe damos!
Esqueçamos as peças e voltemos um pouco atrás. Além de ser uma matéria-prima fácil de obter, a argila, ou barro como popularmente é designada, apresenta propriedades únicas no preparo e conserva de alimentos, destacando-se a manutenção do calor e do frio, assim como a preservação das vitaminas e nutrientes naturais dos alimentos, o que lhe terá dado a permanência que teve na nossa vida, apesar de todos os materiais que teimam em a substituir. Assim, os utensílios cerâmicos revelam-se dos mais antigos, remontando o seu uso a milhares de anos, conforme demonstram os mais diversos achados arqueológicos, por todas as regiões.
A olaria é, pois, considerada a mais antiga das indústrias, isto porque a humanidade, na pré-história, começou a utilizar vasos de cerâmica para o armazenamento de alimentos, em vez de vasilhames feitos com plantas até então utilizados. Em Portugal, os vestígios de cerâmica continuam a aparecer em sítios arqueológicos, registando funcionalidades diferentes, desde uma primordial função utilitária até um meio de expressão cultural e social.
Na actualidade, em toda a extensão do território nacional encontram-se vários centros de produção cerâmica, cada um com características diferentes, evidenciando as práticas, saberes e estéticas da sua região. Cada centro merece um olhar atento, mas hoje não se fala de especificidades, hoje presta-se tributo a uma matéria-prima tão simples como a terra e, como ela, tão vital e, ainda, à forma soberba como os nossos artesãos a sabem desenvolver!
Em cada peça artesanal está o cunho da mão humana, a imperfeição que a faz única, o colorido que corta a monotonia dos dias cinzentos, a criatividade que nos encanta. Como a vida, as peças de barro são frágeis, resistentes e singulares! Ultrapassaram as decorações campestres e os meios rurais, brilham em ambientes boho chics, marcam presença em lares românticos e em casas contemporâneas. Vão ao forno e à mesa, servem chocolates quentes, chás fumegantes, água gelada! Decoram paredes e mesas, comportam flores!
O barro, em todas as suas cores e formas, faz parte da melhor parte da nossa vida!
RM
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