A arte de trabalhar as fibras vegetais, transformando em objectos os recursos disponibilizados pela Natureza, é uma das heranças mais significativas da história e tradição dos povos. É o caso do junco – Juncus L. – uma planta da família das Juncaceae, semelhante às gramíneas, que surge de Norte a Sul de Portugal, e que se revelou um material orgânico privilegiado para a centenária produção de cestaria e esteiras.
As várias espécies crescem em zonas alagadas, em locais húmidos e nas margens dos cursos de água doce, sobretudo na região do Ribatejo e Alentejo. O plantio do arroz utiliza o mesmo habitat e, por esse motivo, a sua exploração tem vindo a limitar o extenso cultivo de junco de outrora, tornando esta matéria-prima ainda mais singular e desejável devido à sua progressiva escassez.
Além destes locais, o junco cresce, também, no litoral, em água salgada, sendo esta variedade considerada mais macia e resistente, o que permite que as asas dos cestos feitos no Norte de Portugal sejam também de junco, enquanto que as asas dos cestos feitos mais a Sul se caracterizam por ser em vime.
Idênticas no seu formato e no uso que lhe está associado, as cestas produzidas na região de Forjães, onde eram também designadas por “ceiras” e aquelas produzidas mais a Sul, na região de Alcobaça, distinguem-se precisamente por esse pormenor. Refira-se que associada a esta particularidade, se encontra uma outra diferença na execução das asas. Enquanto as asas de junco são, geralmente, feitas pelas tecedeiras do junco, as asas em vime costumam ser confeccionadas e aplicadas por homens, devido a uma maior resistência do material que implica um maior rigor físico.
A apanha desta matéria-prima realiza-se no verão, iniciando-se em meados de Junho, e prolongando-se durante os meses de Julho e Agosto. Este trabalho, moroso, inclui diversas etapas até que se encontre pronto a utilizar no tear.
Depois do árduo trabalho da ceifa, o junco estende-se num campo para secar, durante 30 dias, virando-se várias vezes para que enxugue uniformemente. Este constituiu, aliás, um processo fundamental no seu tratamento. De seguida, e após a selecção dos fios, eliminando aqueles que se encontram naturalmente manchados, procede-se à execução de feixes de acordo com o tamanho dos caules. Os molhos são, então, transportados para a oficina do artesão, para serem submetidos a um tratamento com enxofre. Numa estufa, o enxofre arde durante 24 horas e o fumo que solta branqueia o junco, dando-lhe também consistência para que não parta ao ser manuseado no tear.
De seguida, o junco é novamente separado pelo tamanho e pela cor das hastes: as mais longas reservam-se para as cestas maiores e as mais curtas para os artigos de menor dimensão. As canas mais brancas utilizam-se, preferencialmente, na sua cor natural, enquanto as canas mais escuras se reservam ao processo de tingimento executado com anilina e água fervente.
O verde, o vermelho e a pigmentação natural do junco constituem as cores tradicionais desta arte em Portugal. Porém, com o passar dos anos e com a introdução das peças em junco na moda feminina, foram-se incluindo novas cores, tais como o amarelo, o lilás, o rosa, o laranja, o azul e o preto.
Os desenhos, predominantemente geométricos, geralmente são da autoria do tecelão, mas podem também ser executados de acordo com o gosto do cliente, permitindo um enorme leque de possibilidades.
Depois de urdido o junco, um cesto, consoante as suas especificidades de tamanho, composição e coloração, demora em média duas a três horas a tecer. A este trabalho, há que contabilizar todo o processo necessário para a elaboração da obra, desde a colheita, a secagem, a seleção, o tingimento, a moldagem do junco e, no final, a costura e união das três esteiras de junco que constituem uma tradicional cesta de junco.
Na sua origem, as centenárias cestas de junco, que se faziam no tempo livre e ao serão, enquanto actividade económica que permitia completar o rendimento familiar, usavam-se para ir às compras, às feiras e para transportar marmitas com o almoço dos trabalhadores rurais. A preservação desta forma de arte, a versatilidade da técnica, a raridade e durabilidade do material, a variedade dos padrões e a originalidade e a beleza do produto final transformaram as cestas de junco num adereço possível de integrar na vida moderna.
Aliando a tradição à modernidade, o classicismo à irreverência, as cestas de junco conquistaram o seu lugar na moda, no coração e no desejo de muitas mulheres que as usam nas mais diversas circunstâncias!



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